12 de out. de 2010

O milagre do amor

                                            

    Minha profissão possui muitas peculiaridades. Embora os problemas de relacionamento sejam difíceis de aturar, tem algo que me encomoda mais: - AS MÁS LEMBRANÇAS!!!! Já vivi muitas histórias marcantes, e essa semana uma dessas lembranças me trouxe pesar.   
         A quase um ano atrás, no auge da epidemia da gripe suina, presenciei a história de uma colega de trabalho. Ela era uma fisioterapeuta, com apenas 1 metro e meio de altura, querida, e com um sorriso cativante e agradável.
        Depois de vários anos de casada e 1 filho na idade infantil, engravidou-se do segundo filho. Então, a maldita epidemia se alastrou pelo mundo, e o nosso hospital começou a receber vários casos. E antes que tomasse as medidas cabíves de prevenção, ela adquiriu a gripe H1N1 no seu 5º mês de gestação.
        É irônico imaginar que alguém que cuida de pacientes críticos possa passar por vários momentos estando agora "do outro lado da moeda". E mesmo tendo ausência de consciência devido a medicações, a luta pela sua vida e pela do bebê foi visível por todos os profissionais de saúde envolvidos em seu tratamento.
        Um mês se passou e ela ainda estava internada, evoluindo para um quadro cada vez pior. No entanto, algum tempo depois o seu corpo reagiu aceleradamente e trouxe esperança a todos de que ela estaria encontrando a cura. E sendo assim o bebê pôde se desenvolver naturalmente.
        Mas ao final do 6 mês de gravidez, ela estava muito debilitada, os médicos decidiram retirar o bebê. Já estava com quadro clínico avançado e com infecção generalizada as medicações poderiam ter matado o bebê. Porém o milagre da vida nos deixou uma história de amor.
        Sara,  lutou pela vida no inconsciênte para ser um milagre. E mesmo não tendo saúde para manter o próprio coração batendo no peito, cuidou de um ser impotente dentro de si. Lutava diariamente por se manter viva para assim salvar sua filha. 
       Finalmente, os médicos decidiram fazer o parto, quando não havia mais como posterga-lo. Sabiam que a vida dessa mãe estava se esvaindo por causa do bebê. Sara então foi levada ao centro cirúrgico e após a cesariana, o bebê requeria cuidados intensivos. O bebê havia sobrevivido, e após este momento seu quadro foi evoluindo com piora até chegar nos últimos momentos de sua vida. 
      Me lembro de alguém ter mensionado seu  meio sorriso, mesmo diante de tanto sofrimento. Todos presenciaram que ela deu tudo de sí, suas últimas forças, últimas energias, o seu último folego, o que lhe restava de vida para manter o seu bebê vivo. 
     Esse mês Mariana faz um ano de idade. Seu pai e seu irmão viveram essa historia, ela não conheceu sua mãe.  Não posso julgar se valerá a pena, se ela será uma pessoa de bem ou alguém que realmente merece a vida de alguém como Sara. Só sei que o milagre da vida e da maternidade vai além do entendimento.
      E se uma mãe pôde dar a vida por seu filho no seu leito de dor, o milagre da vida é então muito maior do que o meu próprio entendimento. 


Pintura de: Pablo Picasso



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