15 de nov. de 2010

Morte em Cristo é perder para ganhar - Wendel Matos



       Falar de um vazio é algo muito estranho. É como abrir os olhos numa caverna escura. O que dizer  para o nada? Como explanar sobre o nada, sobre o vazio, sobre a escuridão? É essa a sensação que temos quando falamos da morte. Um vácuo que sugou sua realidade e agora vc não tem mais nada.
Tento imaginar Adão e Eva quando presenciaram a primeira morte, a de Abel. Talvez esse sentimento fosse diferente do de hoje, afinal não se sabia nada sobre ela. No entanto, tenho certeza que o vazio apareceu com o tempo. "NADA", pode ser pior do que a morte.Será ?
          Mais uma vez estou aqui, sentada de frente a essa máquina, porém rodeada de pessoas enfermas a beira da morte. No hospital em que me encontro, a morte parece uma amiga que não aparece quando se deseja. O corpo está presente como matéria, sofrido com o tempo ou pela situação precária de uma doença covarde e sem escrúpulos. Aparentemente a vida está ali, mas a morte parece ser a libertação de muitos da escravidão da doença.

        Ontem, uma cena me chocou:  uma mãe, debruçada sobre sua filha de uns 30 anos de idade, com uma doença rara (mal de chiare). Ela conversava com a mesma, que se encontra em coma, e, além disso, com diagnóstico comprovado de morte cerebral. Dizia àquele corpo inerte, mas ainda com vida, que sua doença seria vencida pela fé, e que Jesus cuidaria de tudo pois ele é o autor da vida. Aos olhos de uma fisioterapeuta cristã como eu, que entendia que nada mais poderia ser feito havia apenas um olhar caridoso, mas de incompreensão. A mãe, na esperança de ter sua filha de volta, pede a Deus e com fé acredita em sua "ressurreição”. Mas a fé tem o limite e este limite é a vontade de Deus que é soberana sobre as coisas.
       O assunto morte me acordou hoje quando logo bem cedo, no twitter, vejo a notícia da morte de um guerreiro. Seu nome, Wendel Matos: jovem, talentoso, inspirador. Em uma de suas músicas, sonhava com o céu, com o momento em que a morte será vencida para sempre e não mais separará as pessoas. Era guerreiro, porque o câncer queria vencê-lo mas mesmo sendo fraco, ele ainda lutava por sua existência. E então pela manhã, apesar de não conhecê-lo, mas admira-lo, o vazio de minha alma começou a existir. Pensava em sua família, seus amigos mais próximos, os músicos que tiveram o privilégio de aprender com ele e serem abençoados pelo seu dom. Tudo isso agora era apenas uma caverna , um breu. Sem cor , sem sentido, sem propósito.  
         Jesus, também perdeu alguém que ele amava enquanto esteve na terra. Ele chorou muito a morte do amigo Lázaro. Mas a atitude de Jesus, nas próximas cenas dessa história nos mostra que sua mensagem nos revela a verdadeira vitória, e a plena esperança que ocupa o vazio. Lázaro estava na caverna da morte, no breu, na escuridão. E Jesus ao ser informado de sua morte diz aos seus discípulos as palavras : "Lázaro dorme, mas vou desperta-lo do sono (João 11:11)". "Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o filho de Deus seja glorificado por ela".(João 11: 3). Jesus chorou, sofreu, lamentou. Mas não podia deixar a tristeza ocupar o lugar da esperança. Ao dar a ordem sobre a morte ele disse: "Lázaro saia" - e com essas palavras ele quer dizer: "Filhos, eu venci a morte para que vocês tenham esperança".  "Eu sou a ressurreição e a vida e quem crê em mim, ainda que morra viverá." (João 11:25)
      Falar do vazio não é fácil, estar dentro da caverna é de uma profunda dor. Porém esse vazio pode ser ocupado pela esperança de sermos plenamente vitalizados pelo autor da vida que também é o vencedor sobre a morte. Existe sim, algo pior do que a morte, é a vida sem esperança. A fé é algo que pode mover montanhas mas não é capaz de vencer a morte. Quem vence a morte é o poder de Deus que em sua vontade, se faz glorificado em nossas vitórias sobre a cura impossível, sobre o quadro clínico desesperançoso, ou sobre a vida sem sentido de existência. Há sim, um propósito de Deus com a sofrimento de seus filhos queridos, mas para nós deve ficar a certeza de que morte em Cristo é perder para ganhar. Ganhar a coroa da vida, e mais do que tudo, um futuro de plena restauração de corpo e alma.